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É do filósofo e sociólogo francês Edgar Morin a assertiva de que "Existe por toda a parte um formidável saber organizador e criador do qual nada conhecemos". Mais ainda quando diz: "Um saber profundo e complexo está em nós, ele constrói, repara, regenera, reproduz, anima nosso ser biológico, e nós o ignoramos".
Pela primeira vez na história da humanidade o homem contrariou a sabedoria natural ao enfrentar essa pandemia da Covid-19. O confinamento social horizontal está sendo uma inovação nunca antes testada no combate às viroses que durante toda a nossa vida frequentam nosso organismo. Desde que nascemos e até a morte, nosso organismo trabalha, incessantemente, para defender-se das bactérias e vírus que convivem conosco. Alguns desses microrganismos são saprófitos, outros oportunistas e muitos são invasivos e exigem respostas imediatas quando adentram nosso organismo.
A defesa natural mais eficiente que possuímos é a produção de interferon, uma proteína fabricada pelo organismo e responsável pela reação instantânea à agressão dos patógenos. Depois vêm os anticorpos que são produzidos após contato com o agressor ou por via de vacinação específica.
O principal vetor de contato com os vírus e bactérias são as crianças. Elas não sabem ainda desses mecanismos naturais e não se protegem de seus agressores. Ao brincar e entrar em contato com a terra e todo o seu meio ambiente, as crianças desenvolvem imunidades naturais necessárias à sua sobrevivência. Sabemos que aquelas criadas com excesso de cuidados de higiene são menos resistentes às doenças. As crianças no seu viver cotidiano levam para suas casas esses contatos com patógenos e, com isso, contribuem para que a família também desenvolva suas resistências. Os níveis de interferon são mantidos alto graças a isso.
Faz parte de nossa ignorância o resultado dessa alteração no mecanismo natural de defesa de nosso organismo. Certamente os estudos que estão sendo feitos nos levarão a melhor compreender esses fatos. O futuro nos encontrará melhor aparelhados para tomadas de decisão. O distanciamento vertical, com a proteção dos grupos de risco, talvez teria produzido os mesmos resultados alcançados até agora. O contato dos demais segmentos sociais com a Covid19 teria facilitado o desenvolvimento da "imunidade de rebanho", uma vez que as crianças e os jovens estão melhor protegidos. Os velhos e os deficientes que acabam morrendo não contribuem para essa imunidade do coletivo.
Por tudo isso que acima foi dito, é de saudar a decisão dos governos de reabrir as portas das escolas e voltar às atividades comerciais deixando que a sabedoria da natureza realize seus propósitos e restaure a normalidade que tanto almejamos. As previsões que foram feitas desde o começo sobre os malefícios sociais e econômicos do isolamento horizontal ainda não foram totalmente dimensionados. Os pedagogos sabem que o aprendizado infantil tem tempos certos que, uma vez perturbados, não podem ser recuperados.
Ainda deverão ser avaliados os prejuízos causados pela paralisação das escolas. A evasão escolar e o abandono definitivo de muitas carreiras universitárias, ainda deverão ser dimensionados. Quanto custará esse aprendizado, só o futuro nos dirá.